Estou eu entregando flores na Av. Paulista, flores gratuitas com mensagens contra a violência à mulher, muitas pessoas passam por mim e me ignoram como se eu fosse invisível, elas não perguntam o porquê de eu estar com uma cesta de flores, nem ao menos dizem “não obrigada”, elas simplesmente passam e não me olham mesmo eu oferecendo uma flor, essa é a cara da nossa sociedade, as pessoas de bem não querem saber, elas não querem te ver, porque se elas te verem talvez elas precisem perguntar e buscar saber se eu estou vendendo algo para criar meu filho, aquele filho que a sociedade me impediu de abortar.
Eu doou flor, mas eu poderia ser aquela mulher solteira e desempregada que engravidou sem planejamento e sim pensou em abortar, mas as pessoas de bem dizem que não posso, que Deus não aceita, mesmo eu não compartilhando da mesma crença delas, elas me impõe que é pecado, que sou criminosa caso aborte, então eu tenho o bebê e para cria-lo e eu faço flores pra vender, acreditando que as pessoas que me obrigaram a não abortar fossem comprar, mas não, as pessoas de bem simplesmente nem olham, mas elas querem mandar nas minhas decisões, eu posso deixar meu filho em um orfanato para adoção, dizem as pessoas de bem, mas e se ele não tiver a sorte de encontrar um lar? Neste caso ele ficará no orfanato até completar 18 anos e depois vai se virar sozinho. Mas e se ele não teve uma base concreta para conviver em sociedade como atenção, carinho, amor, educação, ensino entre outras que uma criança precisa para crescer saudável? Neste caso ele corre o grande risco em se tornar um bandido e as pessoas de bem que me impediram de abortar o matarão, porque bandido bom é bandido morto. Fico na dúvida se essas pessoas são pró-vida ou somente contra o aborto por uma questão religiosa ou pelo tabu existente sobre o assunto.
Sinceramente eu fico muito feliz por não estar vendendo flores pra sustentar meu filho. Sinceramente eu fico feliz por não viver conforme as regras, pois se eu engravidasse hoje eu faria um aborto. Sinceramente eu fico feliz por ser ignorada pela maioria das pessoas de bem, não quero ser vista por elas, quero ficar longe e invisível à elas, isso porque eu prefiro ficar com as pessoas do bem que possuem empatia com as outras pessoas.
Kátia Osório