Thalita apesar de sempre tido amparo material em sua casa, suas necessidades emocionais nunca foram bem atendidas. Seus pais, apesar de sempre atenderem aos desejos matérias eram frágeis.. Seu pai era alcoólatra. Todos os dias seu pai “batia ponto” no bar perto de onde moravam e chegava em casa transtornado, agressivo. Foram inúmeras as vezes que presenciou seu pai agredindo sua mãe. Thalita também foi muito agredida por seu pai, às vezes pelo simples fato de entrar no quarto dos pais para pegar um livro que precisava estudar durante à noite, pois só depois que seus pais dormiam que tinha tranquilidade para ela colocar os estudos do colégio em dia. Nas noites mais difíceis da sua infância, ela se recorda que saia correndo do apartamento com sua mãe, ambas com medo e fugindo do estado amedrontador e agressivo que seu pai estava devido aos efeitos do álcool. A mãe de Thalita, por ser frágil emocionalmente não conseguia se desvincular do seu pai. Sua mãe não sabe como toda sua negligência e estado de inércia de deixar aquela criança ter crescido em ambiente tão hostil lhe fez mal. Thalita foi crescendo, tornou se universitária e seu pai já estava mais contido com o seu problema alcoólico, a situação financeira da família estava melhor e haviam mudado para uma casa bem maior. Thalita sempre driblou as dificuldades, cresceu com sangue nos olhos e cabelos nas ventas, tinha 19 anos, estava na faculdade de medicina, já fazia seu estágio e tinha seu próprio dinheirinho, Conheceu Jon..Em que pese os 19 anos ser o auge da juventude, já tinha tido algumas decepções amorosas, Thalita tinha uma enorme necessidade de sentir se amada, no colégio sofrera de bullying, e, internamente precisava se sentir especial para alguém.. Jon era lindo, olhos verdes, musculoso, surfista, além de ser muito popular na sua cidade, já havia sido até garoto propaganda, eles se conheceram em uma festa no condomínio de Thalita num momento que nem ela esperava. Jon se encantou a primeira vista, Thalita não pode negar que também investiu na trocada de olhar, deram o primeiro beijo na mesma noite. No dia seguinte Jon foi novamente ao encontro de Thalita e na mesma semana, Jon já havia lhe apresentado a toda sua família. Em um mês já haviam oficializado o namoro e três meses depois, já estavam morando juntos. Jon parecia atencioso, ligava o tempo todo para Thalita, que achava o máximo as “preocupações” de Jon, afinal ela se sentia importante quando o seu “amado” sentia sua falta durante o dia. Porém o conto de fadas começou a ficar estranho. Jon nunca podia ser questionado por Thalita, uma vez ao saber por amigos que Jon já havia se metido em diversas confusões, Thalita o indagou sobre o assunto quando sem entender absolutamente NADA, Jon lhe deferiu um soco em sua barriga e lhe disse: “ Nunca mais fale isso”. Thalita ficou assustada com tamanha atrocidade e prometeu para si mesmo que o relacionamento haveria chegado ao fim. Porém, Jon era sedutor, astuto e sagaz, no mesmo dia após um dia cansativo de estágio lhe esperou na porta de seu trabalho, aos prantos jurava nunca mais fazer aquilo. Levou Thalita num dos pontos turísticos mais atrativos e românticos da cidade, lhe deu presentes, flores para tudo ficar bem. Thalita aceitou, no fundo apesar de ter a casa dos seus pais com todas as questões materiais atendidas, e, o ambiente em sua casa não era bom. As brigas constantes de seus pais sempre deixavam Thalita atordoada. Thalita preferia ficar com Jon, pois via nele um amparo, algo totalmente sem lógica. Ele sempre lhe fazia as vontades, estava sempre a disposição de Thalita. Ela se sentia segura de alguma forma com ele. Ele parecia estar sempre disponível para atender a qualquer necessidade de Thalita. Porém Jon era muito nervoso, apesar de ter uma família rica, era perdido em seus objetivos. Jon então começou a ser mais violento, uma vez além de deixar seu olho roxo, quebrou seu braço. Jon falava com certo orgulho para alguns amigos machistas que deixava as mulheres feito o “panda”. SIM, grotesco. Porque uma menina estudiosa, prestes a se tornar médica, trabalhando, com uma família não conseguia enxergar tamanha atrocidade, ou ficar com nojo de Jon? Porque sempre voltava para ele? Jon tinha fala mansa, argiloso com as palavras, com um poder de manipulação incrível, falava para Thalita que ela tinha que dar valor para ele, pois ele era bonito, rico e para aturar uma louca que nem ela só ele aguentaria. Só ele era capaz de lhe “amar” porque era ela muito problemática, não conseguiria ser ninguém na vida nem mesmo casar porque eu era extremamente ruim, inadequada e estranha. Mesmo Thalita sendo saudável ela acreditava nele. Após 3 anos juntos, muitas agressões, processos abertos, que já havia perdido totalmente sua credibilidade pois Thalita sempre voltava pra Jon. Em um após os afazeres normais de trabalho, Jon num estado de surto (SIM, IINESPERADAMENTE), pois não havia tido brigas entre o casal, insultos, nem mesmo uma mensagem no qual possivelmente Jon, poderia ter ficado com ciúmes (mesmo que houvesse NADA justificaria o que segue), Jon jogou Thalita no chão, bateu com sua cabeça várias vezes no chão, lhe enforcava para não gritar e tapava sua respiração, prendia seus braços para trás como em golpes de jiu-jitsu, Jon espancou Thalita por mais de 4 horas seguidas, ele confiscou seus celulares e desligou para que a mesma não pedisse ajuda, ela não conseguia pedir por socorro porque ele o tempo todo tapava sua boca e, qualquer ato que Thalita tentava fazer para resistir era pior, pois Jon lhe golpes mais fortes. Thalita não sabia mais o que fazer, temia por sua vida, se viu com dois facões perto de sua barriga e pescoço além de cuspes e escarradas no rosto. Sim, ela pensou que fosse morrer. Cansada de tantos golpes e pensando que não ia mais agüentar, Thalita simulou que havia desmaiado e, mesmo com seu corpo inerte, Jon se excitou diante de Thalita e a estuprou mesmo “desmaiada”. Thalita tinha tomado repulsa, nojo, seu interior estava tomado por sentimento de raiva, vingança. Porém temia por sua vida e queria sobreviver. Num descuido de Jon, que abriu a porta da garagem Thalita viu a oportunidade de fugir, mesmo com o corpo dolorido de tantos golpes, ela tirou as forças que haviam dentro dela e correu, correu, correu e correu. Jon imediatamente entrou no carro para seguir, porém mesmo pensando que podia ser atropelada por ele, ela não olhou para trás. Thalita avistou uma movimentação em uma tabacaria na esquina perto de sua casa e ali conseguiu amparo. Thalita foi ao hospital e teve todos os cuidados necessários. A sensação que Thalita sentiu em sair daquela relação foi primeiramente de ALÍVIO. Sede de vingança por tanta humilhação e dor era óbvio que sentia. Ela emagreceu 10 quilos, não tinha sono, fome tudo ficou escuro para Thalita. Seu sonho de noivo perfeito, planos e enxoval para o casamento se foram. Tudo se tornara sórdido e sombrio. Foram INÚMERAS as ligações e mensagens recebidas de Jon, porém sua família e amigos lhe deram apoio para que não fraquejasse e caísse de novo nas armadilhas de seu algoz. Um mês depois Jon já postava fotos com a nova namorada na casa que morava com Thalita. Thalita passou a chorar ainda mais, pois havia pouquíssimo tempo que terminavam, como que ela, que era o amor da vida de Jon, pois segundo ele, ele morreria sem ela na vida dele, já estava substituída tão rapidamente. Thalita buscou ajuda de uma Excelente terapeuta. Só então descobriu que seu choro não era por amor, era por ódio. Thalita chorava pelo fato de ter sido abandonada, quem tem esse tipo de esquema segundo a “terapia dos esquemas”, sofreu abandono ou negligência de seus responsáveis. Pois a mãe de Thalita foi extremamente negligente ao ficar inerte ao ver o seu pai espancar Thalita quando era criança, por motivos que não seriam justificáveis uma criança apanhar, como por exemplo, abrir a porta do quarto dos pais para pegar um livro. Thalita acabou associando o amor a agressão, como seu pai também tinha suas limitações emocionais, não sabia demonstrar afeto de forma genuína para Thalita, ele lhe levava ao shopping, dava presentes e roupas caras, como forma de manter vínculo com sua filha, pois apesar de emocionalmente frágeis seus pais eram bons, se preocupavam com todas as necessidades de Thalita. Como Jon sempre vinha com presentes e passeios como uma forma de pedir desculpas, Thalita entendia que estava tudo bem, apanhar e depois receber presentes, pois foi a forma que aprendeu quando criança. Thalita entende que seus pais também vieram de famílias frágeis e não sabiam fazer de outra forma se não essa. Hoje Thalita tem 25 anos, já é médica, concursada e bem sucedia financeiramente. Seu maior erro foi acreditar que Jon falava a verdade quando lhe subestimava. Thalita sempre teve uma força que só descobriu depois de se auto conhecer. Conseguiu se formar no mesmo ano que separou e 2 anos depois já havia passado no concurso público. E enfim descobriu o que é felicidade e bem estar subjetivo, a felicidade não está no outro, ela ainda opta por ficar sozinha. Fez e continua fazendo terapia e todas as suas questões principais que lhe deixaram tão vulneráveis a tamanha maldade foram curadas. A vida? Vai bem obrigada, problemas? Sempre vão ter, faz parte do jogo. O recado que eu quero passar para todas as mulheres é que AMOR não é aceitar agressão, aceitar ser rejeitada, aceitar ser menosprezada, AMOR são bons encontros, é RECIPROCIDADE. Amor é quando eu presto atenção no outro, nos seus desejos e quando eu recebo de volta toda essa energia também. Não é dar mais do que receber e criar expectativas, amor é saber que aquela pessoa nunca irá te deixar na mão. Em qualquer situação… sabendo se você está bem, querendo seu bem, deixando os momentos mais felizes. BRIGAS, PREOCUPAÇÕES SE ELE VAI LIGAR OU NÃO, SE VAI SE IMPORTAR COM VOCÊ OU NÃO, NÃO É AMOR!!! É QUALQUER OUTRA COISA MENOS AMOR. SE AMEM MAIS MULHERES, ATENTEM PRIMEIRAMENTE PARA AS SUAS PRÓPRIAS NECESSIDADES, VONTADES E SONHOS. Quando estamos na nossa zona de conforto achando que aquilo está bom pra gente, melhor com ele do que sem ele, e que você não tem forças para viver sua vida sozinha, precisamos para e refletir.. Como eu não vivo sem o outro? Porque preciso dele? O que ele me da? LÓGICO que vivemos sem o outro, se for questões financeiras que lhe prendam, vamos trabalhar a nossa autonomia, porque o principal do desenvolvimento humano é a sua autonomia. Se for por uma migalha de momento, alguma coisa está mal, pois porque preservar uma relação ruim e disfuncional? Vocês precisam saber a deliciosa sensação que é ressurgir das cinzas livrando se de relações tóxicas e azedadas e, ver as coisas boas acontecendo, realizando os próprios sonhos sem precisar contar com um parceiro abusivo. SEJA LIVRE. VOCÊ CONSEGUE!!! Por fim deixo o seguinte trecho do poeta Bob Marley: “É melhor atirar-se na luta em busca de dias melhores, mesmo correndo o risco de perder tudo, do que permanecer estático, como os pobres de espírito, que não lutam, mas também não vencem, que não conhecem a dor da derrota, nem a glória de ressurgir dos escombros. Esses pobres de espírito, ao final de sua jornada na Terra não agradecem a Deus por terem vivido, mas desculpam-se perante Ele, por terem apenas passado pela vida”.
Thalita
(nomes usados no texto são fictícios)